1.12.09

Rapidinha de amantes.

Eles já nem sabiam mais dizer há quantos anos se amavam tão intensamente e viviam uma angústia eterna de serem apenas amantes. O marido dela era cardíaco, de família italiana e quatrocentona. A mulher dele tinha a pior diabetes do mundo e quase não fazia xixi sem ele. Eles se amavam nas horas de almoço dele enquanto ela saia dizendo que tinha sempre mil coisas para fazer na rua. Apagavam velas tardiamente por seus aniversários. Trocavam presente de dia dos namorados uma semana antes porque ela morria de curiosidade. E ele de uma ânsia que dava até nojo.


E depois de tantos anos a mulher dele morreu. E poucos meses depois o marido dela. Se uniram em menos de seis meses diante de uma platéia pasma com tanto amor exalando poros afora de duas pessoas que já não eram tão jovens. 

Dois anos depois ele encantou-se brutalmente pela caixa do mercadinho da rua de baixo. Era uma vila. E a moça gostou de ser flertada com tanto romantismo por um homem mais velho e com a experiência estampada no rosto em forma de rugas. Viveu por ela uma paixão arrebatadora. Mas era um homem honesto. Jamais largou sua mulher. Afinal ela era viúva.  

17.11.09

Ah! Tininha!!!

Quando se casaram ela não podia encostar a barriga lisa e na medida certa na pia para lavar louça ou ralar um pepino que lá vinha ele. Com a mão boba, a pegada forte e a intenção indecente. Era toda noite a mesma coisa. Fetiche eterno. Ela na pia. Ela achava que a tara mesmo era na figura de uma doméstica mas levava numa boa. Lá ia ele todo pegando aqui, apertando dali e ela sempre falando que a cenoura ia ressecar mas sempre cedendo aos encantos do recém admitido marido e candidato a amante para o resto da existência se ele continuasse safado daquele jeito. Ótimo um marido que te quer na pia, no ralo, no bidê, na puta que pariu, sempre bom para a estima da buzanfa marcada pelas coisas do tempo. Quando se casaram ela tinha até vergonha de beijá-lo em público, sempre recatada. Ele não. Ele era todo manifestação de carinho que era para todo mundo saber que ali estava a mulher que ele tinha escolhido para passar a vida toda em cima (e embaixo) da cama. Ele não podia vê-la amarrando os cabelos para ajeitar a malfadada touca enquanto a água esquentava. E lá ia ele. Tirando as calças enquanto escorregava e pulava de um pé só para não perder o time do negócio e da pegada. Por algumas vezes ela quis que ele fosse ao médico com medo de ele ter “aquela” doença de quem tem vício em sexo. Mas não era doença. Era tara por ela.


Os anos se passaram. Ela continuou lavando louça com as mesmas calças apertadas mas ele não continuou com o fetiche noturno de toda santíssima noite. Talvez fosse a idade. Ou talvez não.
Hoje quando ele chega às vezes fala oi mas às vezes se joga no sofá e em cinco minutos cochila num cansaço aparente e quase desumano para um homem da idade dele. Muito trabalho, coitado. Hoje, ela coloca as calças mais apertadas que tem e encosta na pia elevando as grandes, abatidas e caídas nádegas para ver se estimula a pipa do vovô. E ele abre a geladeira, comenta da vida de fulano de tal e ajuda sua barriga no plano de expansão 2010. Vai para sala tomando coca-cola no gargalo. Ela chora as pitangas para as amigas. Acabou o desejo dele. Só se for por ela, contam as fofoqueiras de plantão. Ele está cansado assim porque há 3 anos a Tininha da rua de trás arranca dinheiro dele. E ele dá porque quando ela encosta a barriga tanquinho na pia da cozinha da casa que ele comprou para ela, ah meu irmão, aí ele fica louco.

4.11.09

Rápida e desconexa sobre ele e ela.

Ele era tão pouco macho que não via graça em rotular nenhuma relação que fosse exatamente pela quantidade de macheza que havia no seu ser submissamente indigno.
Ela ao contrário era uma criatura absoluta de si. Vivia unicamente por e para si.
Ele era alto e magro por causa do trauma da pseudo obesidade ainda na adolescência.
Ela era gostosa e mediana na altura. Mas ninguém discutia seus brilhantismos no meio da classe machista com quem ela planejava estratégias incríveis de Marketing numa grande multinacional.
Ele vivia de freelas e radiava quando pagava todas as suas contas em dia mesmo que não sobrasse um cent para o chopp que ele nunca tomava mesmo. Ela toda semana sentava numa roda de amigas que bebiam assumidamente e falavam mal mais assumidamente ainda dos machos meio machos que andam encontrando por aí.

Ele era de família boa e ela mal conhecia o pai porque tinha sido criada por um padrasto distante.
Ela tomava sorvete no inverno desde sua viagem para Suíça. Ele tomava sopa fria de pacote no verão porque salada é igual a mato e quem come mato é cavalo.

Ele acabou a vida proletariando feliz.
Ela acabou a história morta de viver.

27.10.09

Rápida sobre união estável.

Ele: Oi amor! O que é essa sacola?


Ela: É uma camisola nova linda que comprei para deixar aqui! Mas você só pode ver depois do jantar porque é surpresa.

Ele (cara de desconfiado): Como assim, para deixar aqui?

Ela: Ué amor?! Eu já tenho escova de dente, secador de cabelo, xampu, máscara para rosto, perfume, maquiagem, lingerie, pantufa, porta retrato. Qual o probelma em ter uma camisola?

Ele: Nós precisamos conversar. Essa camisola não vai ficar aqui. Não pode, estou falando sério.

Ela: Como assim!?! Não estou te entendendo. Você ta implicando com a camisola?


Ele: Estou falando sério. Nada de camisola

Ela: Qual é o seu ponto? Não estou entendendo o raciocínio.

Ele: Olha amor, eu confio muito em você mas você é advogada, e eu estou estranhando você hoje. Vai, me fala, tá fazendo tudo de caso pensado, né?

Ela: Tudo de caso pensado?! Sim...camisola bonita, intenção, caso pensado... Mas eu não estou te entendendo.

Ele: Ai amor. Hoje o Márcio aquele meu amigo advogado, ele me ensinou coisas muito importantes sobre união estável. Você é advogada, aposto que sabe tudo sobre união estável.

Ela: Como assim!? Você está me dizendo que hoje eu saí do escritório correndo, passei no shopping para comprar uma camisola no intuito de ter uma união estável com você?! Isso depois de 2 anos de namoro?

Ele: Não. Veja bem...não disse que você fez isso. Mas sabe como é né. Imagine se um dia a gente briga e você fala que tem uma união estável comigo, que até camisola tinha em casa?

Ela: Realmente. Afinal, se eu tinha uma camisola....fica tudo muito claro né!?!

Ele: Ah mor...sabe como é. Uma camisola...

Ela: Realmente é uma camisola.. Camisola essa que inclusive você não vai ver. Hoje eu durmo de moletom, na sua cama e você no sofá!

Ele: Nossa mor. No sofá?

Ela: Sofá.

Ele: Vamos fazer um trato então?!

Eu: Ahm.

Ele: Você traz o guarda roupa inteiro. Eu durmo na minha cama com você. Mas a gente promete que não tem uma união estável. Tá bom assim, amor?

15.10.09

Nem tão rápida sobre o divórcio e o tesão.

Ela era um projeto mal acabado de piranha comportada mas no fundo no fundo uma piranha bem honesta. Não tinha falhas de caráter. Só gostava muito da coisa e portanto era mal falada na vizinhança com, em qualquer lugar do inteiror onde a rua que vai é a mesma que volta com uma praça e um coreto no meio.

Foi com o marido já barrigudo no pagode e feijoada de sábado. Sempre iam. Mas nesse sábado, ao invés das três caipirinhas habituais ela tomou cinco e potencializou. Chegaram em casa. Ela ainda dançava sem música e cantava como se fosse parte de um côro com centenas de pessoas que abarrotam um estádio de futebol nas semi finais. Ele estava puto com a mas sabendo que  ia tirar uma lasquinha. Ou quem sabe o couro todo. E ela se rebelou. Lançou-o na cama com o lençol brega em tons de vinho, rebolou a pole dance sem o cano e se jogou em sua pior performance enquanto assobiava e rebolava. Sentou-se sobre ele como se estivesse em cima de um touro mecânico e segurou-o pela gola azeda de chopp, cachaça e o suor dos pagodes . Com uma mão só segurou aquela gola. Bêbada e louca. Ele não sabia se era para rir, chorar ou só comer mesmo. Casados há 19 anos ela nunca tinha se mostrado uma mulher tão tão intensa. Nem tão violenta. E ela nunca tinha gritado antes "Aio Silver" enquanto eles transavam. Não em 19 anos. Era uma mistura de felicidade absoluta com aquela mulher sem pudores e receio de parecer que estava sendo engolido por uma estranha. Com a mão que restou ela desferiu dois tapas na cara do marido barrigudo. A seco. Sem alisar. Na ida e na volta. E em seguida muito sexy decretou: Vem tigrão, sua vez, pode bater!


Ele jogou-a longe e pediu o divórcio.
Tudo menos apanhar. Apanhar não.
Nem sua Santíssima mãe jamais bateu nos filhos.
Que dirá na cara.

 
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